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Blog da Georgia Castro

O que tem nas bebidas energéticas e como consumir com segurança

Georgia Castro

02/04/2018 04h00

Bebida energética

Crédito: iStock

Elas viraram mania, principalmente entre o público jovem. Mas por que será que essas bebidas são ditas energéticas? Acima de tudo, porque elas têm cafeína, substância que notoriamente auxilia no estado de alerta e aumenta a nossa concentração. Desde que bem dosada, é claro.

Para que a cafeína nos deixe mais conectados, o recomendado é o consumo diário entre 75 miligramas —  o equivalente ao que você obtém em uma xícara de 60 mililitros de um expresso, porque o café coado caseiro possui a metade disso — a 200 miligramas da substância.  Para que tenha noção: uma latinha de energético contém, em geral, de 80 a 100 miligramas de cafeína.

A partir desses 200 miligramas, dizem alguns estudos, você pode até melhorar a capacidade de resistência e o desempenho nos exercícios físicos, pensando nos consumidores que não buscam apenas ficar com o cérebro mais ligado e estão de olho na performance durante os treinos.

Trabalhos apontam que,  beirando o limite 300 miligramas, a cafeína não causaria prejuízos à saúde. Mas, é claro, isso depende da sensibilidade de cada um, que pode variar bastante.

O problema do excesso é que ele estimula demais o sistema nervoso central e o músculo cardíaco. Daí que uma dose maior do que 400 miligramas não costuma fazer bem a ninguém, levando a sintomas em graus variados, como ansiedade, perda de apetite, irritabilidade, tremores, inquietação, tensão muscular e palpitações cardíacas. Por isso que eu digo: cuidado!

Você precisa ficar atento para não ultrapassar os limites de cafeína. Vamos considerar que costume tomar, todos os dias, uma xícara de café expresso ao acordar e outra após o almoço. Ou seja, só aí você já consumiu, em média, 150 miligramas de cafeína.  Então, se vai a uma festa mais tarde e, lá, toma duas latinas de energético, já terá ultrapassado, com relativa facilidade, os 300 miligramas da substância. Sem contar que pode ter ingerido outras fontes de cafeína ao longo do dia, como o pó de guaraná — em cada 1 grama dele, você tem de 9,5 a 36,7 miligramas do componente— e até mesmo certos refrigerantes. Embora a contribuição deles em matéria de cafeína possa ser bem menor, no final tudo conta.

Nesse raciocínio, uma boa orientação de consumo seria beber duas latinhas de energético em substituição ao café daquele dia. Ou tomar uma lata dessa bebida e só uma xícara pequena de café. Ou seja, sempre buscar compensar para encontrar o equilíbrio.

Os energéticos também costumam conter taurina, na quantidade máxima de 400 miligramas. A taurina é o resultado do metabolismo de dois aminoácidos, a metionina e a cisteína. Ela é geralmente encontrada em altas concentrações nas algas, nos crustáceos (eles chegam a ter 8.270 miligramas de taurina por quilo!) e na carne de aves como o peru (com 3.000 miligramas por quilo).  E o que a taurina faz? Além de ajudar na função de cognição do cérebro, ela retarda o aparecimento da fadiga. Daí que tem uma ação diferente, mas que pode complementar, por assim dizer, a da cafeína.

Uma curiosidade: para que a taurina seja obtida a partir da metionina e cisteína,  depende da ajuda da vitamina B6. Por isso, muitos energéticos contêm vitaminas do complexo B em quantidades que alcançam 100% do valor diário recomendando. Aliás, nem só por isso: as vitaminas do complexo B, indiretamente, ajudam no  funcionamento normal do metabolismo para produção de energia para o corpo, porque fazem com que ele aproveite com muito mais facilidade a proteína, a gordura e o carboidrato.

Outro ingrediente comum nos energéticos  é a glucoronolactona. Esse nome difícil se refere a uma substância que nosso organismo produz naturalmente, desde que tenha glicose disponível. E, cá entre nós, de um jeito ou de outro todo alimento acaba produzindo glicose, de modo que ela nunca falta… A glucoronolactona também aumenta a energia e pode diminuir a sonolência.

Finalmente, os energéticos podem ter ainda o inositol, uma espécie de parente químico do xilitol, outro elemento capaz de melhorar a performance mental. A quantidade máxima dessa substância em uma latinha é segura: 20 miligramas em cada 100 mililitros apenas.

No entanto, uma péssima ideia infelizmente comum é consumir um energético com bebida alcoólica. O álcool — que pode até estar presente em algumas marcas, na quantidade máxima permitida de 0,5 mililitros em 100 mililitros — potencializa o efeito de todos os componentes da bebida energética. E isso, claro, é arriscado. Tanto que, em alguns países, a combinação é terminantemente proibida. Assim como, mesmo sem misturar com nada, um energético não deve ser consumido por grávidas nem por crianças. Olhe sempre no rótulo, em especial na lista de ingredientes a quantidade de cafeína, taurina, inositol e glucoronolactona, é obrigatório declarar.

Sobre a autora

Engenheira de alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e doutora em nutrição pela Universidade Estadual de Campinas e pelo INRA, na França, Georgia Castro passou mais de 20 anos na área de assuntos científicos e pesquisa aplicada de algumas das maiores indústrias de alimentos do mundo, conhecendo como poucos os bastidores da produção daquilo que chega à nossa mesa. Atualmente, trabalha como coach de saúde e bem-estar.

Sobre o blog

Um espaço para você saber a verdade e compreender a composição dos alimentos embalados, aqueles que compramos no supermercado, nos atacados, nas lojas de conveniências ou que pedimos em cantinas, lanchonetes, bares e outros locais tão presentes na vida cotidiana. Assim, com informação, você será capaz de fazer escolhas de forma mais consciente.

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