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Blog da Georgia Castro

Alimentação da nossa seleção é exemplar: diversificada e sem radicalismo

Georgia Castro

25/06/2018 04h00

Crédito: Getty Images

Atletas de alto desempenho, quando estão sob alta pressão, geralmente gostam de sentir um sabor que remeta à comida de casa.  Aliás, todos nós, se estamos em uma zona de desconforto, buscamos alguma compensação no alimento. E isso é o que podemos notar no cardápio dos jogadores brasileiros que participam do maior evento do futebol, a Copa do Mundo.

É claro que cada item da alimentação dos atletas deve ser, antes de mais nada, aprovado por outro time, o dos profissionais de saúde, com nutricionistas e médicos do esporte, considerando as necessidades individuais antes, durante e após os treinos. O desafio paralelo é — justamente para que cada jogador se sinta mais perto de casa quanto estiver à mesa — respeitar os hábitos alimentares, culturas regionais e até mesmo pratos "de fora" que, digamos, se tornaram corriqueiros para aqueles que já jogam, há algumas temporadas, no Exterior. Esse é um desafio para o chef gaúcho Jaime Maciel, que integra a CBF desde 1995 e, portanto, tem vasta experiência em Copas do Mundo e outros torneios da nossa Seleção.

No almoço e no jantar dos atletas, nunca falta o arroz branco e o integral, para quem gosta de um ou de outro. Há, ainda, duas opções de feijão, o preto e o carioquinha. Assim, cada um pode fazer a combinação de sua preferência da dupla mais verde-e-amarela da nutrição. Do mesmo modo, há sempre pratos mais com cara do nosso Nordeste, como a carne seca com jerimum, e massas que agradam em cheio quem veio do Sudeste e do Sul. Tudo se completa com quatro opções de carnes e mais de cinco ofertas de sobremesa. O que mais me chama a atenção — e aí acho que a Seleção é um ótimo exemplo — é a ausência de radicalismos.

Tudo bem que, entre as principais refeições, nossos jogadores fazem lanches dito saudáveis, incluindo castanhas, frutas, sucos ou vitaminas, iogurtes. Mas colocaria entre aspas a expressão "dito saudáveis" porque qualquer alimento, dentro de uma dieta balanceada — isto é, em uma dieta que não deixe nada faltar nem ultrapasse a porção recomendada de cada nutriente — pode ser bom, por que não?

Apesar de o menu incluir boas porções de alimentos in natura, eles convivem com porções moderadas de alimentos processados, assim como há opções de pudim, bolos e até uma banana frita com canela e açúcar que, mais do que o valor nutricional, é bastante associada ao aconchego de um lar. No que diz respeito à bebidas, aí não: realmente nossos jogadores só bebem água e sucos naturais.

A questão da segurança alimentar também foi muito bem planejada — e nem poderia ser diferente. A equipe de nutrição esteve na Rússia algumas vezes antes do evento, para verificar a qualidade dos fornecedores dos ingredientes. Não só checaram como faziam o controle microbiológico, mas se havia alguma espécie de risco de contaminação — por exemplo, pedaços de insetos ou resíduos de metal pesado. Até mesmo as embalagens da comida foram avaliadas.

A preocupação não é apenas a de evitar que algum jogador tenha uma dor de barriga comprometedora ou fique doente. Imagine que um dos nossos atletas tome uma bebida contaminada com substâncias capazes de estimular o sistema nervoso central. Ele poderia, em tese, ser acusado injustamente de dopping.

Sobre a autora

Engenheira de alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e doutora em nutrição pela Universidade Estadual de Campinas e pelo INRA, na França, Georgia Castro passou mais de 20 anos na área de assuntos científicos e pesquisa aplicada de algumas das maiores indústrias de alimentos do mundo, conhecendo como poucos os bastidores da produção daquilo que chega à nossa mesa. Atualmente, trabalha como coach de saúde e bem-estar.

Sobre o blog

Um espaço para você saber a verdade e compreender a composição dos alimentos embalados, aqueles que compramos no supermercado, nos atacados, nas lojas de conveniências ou que pedimos em cantinas, lanchonetes, bares e outros locais tão presentes na vida cotidiana. Assim, com informação, você será capaz de fazer escolhas de forma mais consciente.

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