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Blog da Georgia Castro

Como são feitas as cenourinhas (ou baby-carrots) prontas para consumo

Georgia Castro

07/05/2018 04h00

Você sabe como são feitas as cenourinhas? (Crédito: iStock)

Ralada, em rodelas, em palitos, em cubinhos. Crua ou cozida. Na salada, na sopa, no tempero do ensopado, no acompanhamento da receita principal. No prato salgado ou na doçura do bolo da tarde…. A cenoura, fique sabendo, é de longe o legume mais consumido no Brasil. 

Nossa produção gira em torno de 780 mil toneladas por ano, segundo o IBGE. E, mais recentemente, na lista enorme de opções, surge a mini-cenoura, também conhecida como baby-carrot americana.

Vendida em saquinhos na geladeira dos supermercados e pronta para ser devorada, será que, afinal, ela é igualzinha à da feira?

A baby-carrot é o que nós chamamos de um alimento minimamente processado.  Em geral são hortaliças que, na indústria, passam por operações que eliminam apenas suas partes não comestíveis. Assim, vão-se embora as cascas, os talos, as sementes… Na sequência, os vegetais passam pelo corte e ficam em tamanhos menores, prontos para o consumo imediato. Mas, sim, continuam com sua condição de produto in natura.

As cenourinhas, no caso, passam por uma torneadora –equipamento composto por um disco rotativo com uma espécie de descascador nas laterais. Enquanto giram dentro dela, pelo atrito com as paredes abrasivas, perdem a casca e ficam em pedaços cilíndricos, que tiram um pouco de sua cara de cenoura. É que esse primeiro corte é um tanto reto. Mas continuam ali, até que o seu formato vai ficando cada vez mais elíptico, depois ovalado, arredondado e, finalmente, parecido com o do legume original, só que em uma versão mini.

Não acaba por aí. A torneadora deixa a superfície áspera. Por isso, há uma etapa de acabamento. E as cenourinhas ainda são higienizadas com água clorada. De modo que você pode abrir o saquinho para que elas possam, direto, virar petisco ou parar na saladeira. Ah, sim, podem também ser cozidas, por que não?

Se para o consumidor isso é de uma praticidade e tanto, para o fabricante há um desafio: não é qualquer cenoura que suporta virar cenourinha. Explico. A maioria das cenouras que encontramos em nosso mercado são raízes que os especialistas chamam de tipo 1A. Finas por natureza, praticamente não sobraria nada delas depois da torneadora. Sem contar que existem características de qualidade –como a coloração bem laranja e uniforme– difíceis de a gente encontrar no Brasil, especialmente no período do verão.

Cientistas brasileiros trabalham para resolver essa questão por meio de melhoramento genético. Já foi desenvolvida por pesquisadores da Embrapa uma cenoura, a Esplanada, que apresenta uma boa adaptação ao nosso clima, entre outras qualidades bem desejáveis, que permitem o seu cultivo em qualquer época do ano.

Mas preciso dizer que, apesar de mínimo, o processamento das cenourinhas provoca algumas alterações no tecido vegetal que reduzem sua durabilidade em relação ao legume inteiro. Mesmo em condições adequadas de acondicionamento e armazenamento, a baby-carrot pode chegar a sete ou oito dias de prazo de validade — e olhe lá —  depois de a embalagem ter sido aberta.

O valor nutricional de cada 100 gramas de cenoura convencional costuma ser o seguinte: 2 gramas de proteínas, 3,5 gramas de fibras, outros 3,5 gramas de carboidratos. Ainda há cálcio (80 miligramas), magnésio (25 miligramas) e vitamina C (cerca de 32 miligramas). No caso das cenourinhas prontas e embaladas, os teores de açúcares caem –elas terão, portanto, menos carboidratos–, assim como a quantidade dos famosos carotenóides, pigmentos que lhe dão a cor laranja e que se transformam em antioxidantes dentro do organismo, combatendo os radicais livres. Passado um bom tempo, podem só restar 33% do teor inicial dessas substâncias nas cenourinhas embaladas. Enfim, essas são as perdas. Claro, elas podem variar até em função do filme plástico utilizado na embalagem, se é mais ou menos permeável ao oxigênio, por exemplo.

Um ponto de atenção:  adquira a baby-carrot em supermercados e em outros pontos de venda com refrigeradores. A segurança alimentar, no que diz respeito a essas mini-cenouras, tem tudo a ver com a temperatura durante a manipulação, o armazenamento, o transporte e a distribuição. Portanto, não é caso de comprar mini-cenouras em saquinhos expostos em feiras livres, onde certamente enfrentam calor. E esse calor irá aumentar a quantidade de gás carbônico dentro das embalagens, favorecendo o crescimento de bactérias ruins.

Tirando isso, só posso dizer que a perda nutricional é tão insignificante que, se gosta de mordicá-las e precisa de praticidade, vá em frente!

Sobre a autora

Engenheira de alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e doutora em nutrição pela Universidade Estadual de Campinas e pelo INRA, na França, Georgia Castro passou mais de 20 anos na área de assuntos científicos e pesquisa aplicada de algumas das maiores indústrias de alimentos do mundo, conhecendo como poucos os bastidores da produção daquilo que chega à nossa mesa. Atualmente, trabalha como coach de saúde e bem-estar.

Sobre o blog

Um espaço para você saber a verdade e compreender a composição dos alimentos embalados, aqueles que compramos no supermercado, nos atacados, nas lojas de conveniências ou que pedimos em cantinas, lanchonetes, bares e outros locais tão presentes na vida cotidiana. Assim, com informação, você será capaz de fazer escolhas de forma mais consciente.

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