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Blog da Georgia Castro

O macarrão instantâneo integral é realmente melhor que sua versão clássica?

Georgia Castro

19/02/2018 04h10

Crédito: iStock

Acomodar as inúmeras tarefas do dia a dia não é fácil. E certamente a praticidade e a conveniência são critérios importantes na escolha daquilo que vamos comer. Tempo vale ouro!

É claro que não podemos deixar de lado os aspectos nutricionais e que devemos sempre buscar um maior equilíbrio, levando em conta, conforme o tipo de alimento, a quantidade e a frequência de consumo.  Com isso em mente, uma opção a ser considerada são os macarrões instantâneos ou noodles, popularmente conhecidos no Brasil como "miojo", em virtude da forte  associação desse produto com uma conhecida marca comercial.

As principais matérias-primas na produção de um macarrão instantâneo são farinha de trigo comum, água, sal, e, opcionalmente, outros sais e goma guar. Esta última, originária de um grão nativo da Índia,  funciona como um espessante e aparece em várias formulações de noodles encontrados no mercado brasileiro.

O processo de desidratação para a obtenção de macarrões instantâneos comuns é realizado por fritura em óleo quente, o que pode resultar em altos percentuais de gordura no produto final. Ela representa de 18 a 25% de sua composição.

Ainda bem que a utilização de novas tecnologias, como a fritura a vácuo, aumenta a eficiência da desidratação e reduz o teor de gordura desse macarrão. A adição de sal, fibras ou proteínas também altera a absorção de gordura pela massa. Aliás, isso ocorre tanto na fritura convencional e quanto no processo à vácuo.

E a versão integral?

Já quando você se depara com a opção de comprar um macarrão instantâneo integral só precisa ter a clareza de que, no Brasil, o produto integral ainda não está definido pela regulamentação. Podemos usar como parâmetro a referência de outros países. Sendo assim, o ideal seria você encontrar pelo menos 8 gramas de grãos integrais em uma embalagem de 80 gramas, por exemplo.

Outro critério que você pode utilizar: observar na embalagem se 50% dos grãos ou da farinha são integrais. Uma última dica valiosa é reparar na ordem dos ingredientes listados no rótulo. A farinha integral precisa estar entre os três primeiros da lista.

A farinha integral é um ingrediente que contém todas as partes do grão moído que a originou — o pericarpo ou farelo, o endosperma e o gérmen, ainda que a legislação brasileira classifique a presença do gérmen como opcional. E é no farelo que se concentram as vitaminas, os minerais, os compostos antioxidantes e as fibras tão desejadas em uma dieta saudável.

Mas, sinto informar, considere também que as farinhas integrais, caso não sejam bem controladas, acabam apresentando mais pesticidas e até mesmo toxinas produzidas por fungos. Aliás, o macarrão integral também pode ter um menor tempo de validade, devido a alterações de cor, textura e sabor.

De todo modo, a produção de noodles a partir de farinhas integrais ainda é pouco difundida no Brasil. Vale fazer justiça e lembrar que  a maioria dos macarrões instantâneos integrais do mercado brasileiro tem um teor de gordura muito menor do que aqueles produzidos com a farinha branca. Portanto, oferecem menos calorias. Sem contar que possuem mais proteínas e fibras –no caso, cerca de 8 gramas no pacote. E a quantidade de sódio é bem menor, quase a metade!

Resultado: posso lhes dizer que, na maioria das vezes, os macarrões instantâneos integrais têm mesmo um perfil nutricional melhor.

Em termos de conveniência, é necessário cerca do dobro de tempo para ficar pronto, já que a massa integral é mais dura. Não que isso seja um grande problema. O macarrão instantâneo tradicional só precisa de 3 minutos no fogão e o integral, uns 5 minutos ou um pouco mais, o que, sem dúvida, não compromete em nada a sua praticidade.

Existe alguma controvérsia no que se refere às preferências de sabor, o que sempre depende do gosto de cada um. Tenho ouvido excelentes comentários de pessoas próximas e em sites especializados de culinária. Prove você mesmo!

Como ainda é um produto de baixa escala de produção e consumo, destinado ao que chamamos de nicho de mercado, a versão integral tem um preço mais alto se comparada às massas instantâneas tradicionais, o que seria o seu ponto negativo. Ainda assim é bastante barato e não deve pesar significativamente na cesta do consumidor brasileiro. Pode se transformar em uma refeição saborosa nos dias de muita pressa. Mas volto a dizer: tudo vai depender da quantidade, da frequência… Lembre-se que o equilíbrio é a base de tudo.

Sobre a autora

Engenheira de alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e doutora em nutrição pela Universidade Estadual de Campinas e pelo INRA, na França, Georgia Castro passou mais de 20 anos na área de assuntos científicos e pesquisa aplicada de algumas das maiores indústrias de alimentos do mundo, conhecendo como poucos os bastidores da produção daquilo que chega à nossa mesa. Atualmente, trabalha como coach de saúde e bem-estar.

Sobre o blog

Um espaço para você saber a verdade e compreender a composição dos alimentos embalados, aqueles que compramos no supermercado, nos atacados, nas lojas de conveniências ou que pedimos em cantinas, lanchonetes, bares e outros locais tão presentes na vida cotidiana. Assim, com informação, você será capaz de fazer escolhas de forma mais consciente.

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