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Blog da Georgia Castro

Suco natural vs. de caixinha: qual é a diferença?

Georgia Castro

23/04/2018 04h00

Crédito: iStock

Você sabia que o Brasil produz, anualmente, 43 milhões de toneladas de frutas tropicais? O consumo recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de 400 gramas diários, ou seja, cinco porções. Já o Guia Alimentar da População Brasileira, desde 2006, preconiza três porções de frutas por dia, porém apenas 24% das pessoas atendem essa recomendação.

E, quando falo nisso, sempre alguém me indaga: mas, e os sucos? Eles não poderiam ser considerados como uma porção de fruta? Até podem, desde que sejam 100% feitos da fruta madura e sã. Isto quer dizer que não devem ser nem concentrados, nem diluídos em água, muito menos ter qualquer adição. Só que nem tudo o que você encontra no supermercado, por mais que pareça suco, tem essas características.

Existem, por exemplo, os néctares, que são bebidas produzidas a partir da mistura do suco concentrado ou da própria fruta juntando água e, frequentemente, açúcar. A quantidade de suco pra valer em um néctar pode variar bastante de acordo com o sabor. Por exemplo, a bebida deve conter o mínimo de 15% e 10% de suco da fruta se ela tem um gosto cítrico e intenso, como é o caso do caju e do maracujá, respectivamente. Já para laranja e uva, o néctar deve ser no mínimo  50% de fruta.

E ainda temos o refresco, que contém de 2,5% a 30% de suco apenas — o restante é água e, muitas vezes, de novo açúcar. Para completar dentro da categoria dos sucos industrializados, não podemos nos esquecer das bebidas em pó que têm somente 1% de suco de fruta — e isso quando não se trata de pó artificial, que obviamente não tem fruta alguma na composição.

Agora que você entende essa divisão, talvez queira saber por que um suco de laranja, ou outro qualquer, tem um gosto diferente daquele que fazemos em casa. A diferença ocorre por causa da embalagem, que preserva as características do produto enquanto ele está na prateleira: a famosa caixinha que exige o tratamento térmico UHT (ultra high temperature) ou mesmo o frasco de plástico que permite obter o suco por prensagem à frio. Eles podem alterar o sabor, mas fazem com que a bebida seja envasada asséptica, sem nenhuma contaminação.  E olhe lá que, mesmo assim, as garrafas plásticas precisarão ser mantidas no refrigerador dos supermercados e da sua casa.

No tratamento térmico UHT é aplicada uma temperatura muito alta durante poucos segundos para matar todas as bactérias que possam causar doenças e também aquelas capazes de estragar o suco durante sua vida de prateleira. E esses breves segundos já são suficientes para alterar as substâncias aromáticas e, principalmente, os açúcares naturalmente presentes no suco. Eles então interagem com proteínas — sim, existem pitadas de proteínas nos sucos — e entre eles, e isso também altera a sensação produzida no paladar.

 Uma curiosidade bem interessante é que, na fábrica, aproveita-se até o bagaço da laranja para fazer o suco, enquanto na nossa cozinha ela é apenas espremida, descartando-se muitas fibras. Sem contar que aquelas laranjas com uma aparência nem tão perfeita, que provavelmente seriam desprezadas na sua casa — mas que do ponto de vista nutricional continuam excelentes  — também são utilizadas para a fabricação do suco. Esse melhor aproveitamento faz com que a versão industrializada reduza o impacto ambiental.

O perfil nutricional do suco de laranja feito em casa, comparado àquele produzido na fábrica de sucos (na embalagem em caixinha, com tratamento UHT) é bem similar, diga-se. O consumo de um copo de suco de laranja in natura ou caseiro (200 mililitros), fornece 80% da recomendação diária de vitamina C para adultos. Já o suco de caixinha oferece 57%. O teor de fibras no suco de laranja feito na fábrica é quase 3% das necessidades diárias recomendadas, já o suco caseiro apresenta menos de 1% dessa recomendação.

Mas é fato: quanto à composição de açúcares, naturalmente presentes no suco, naquele feito na fábrica há 40% a mais de frutose e 52% a mais de glicose em relação ao suco caseiro —  mas ambos são absorvidos rápido pelo corpo.

O que me chama a atenção é o resultado da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE em 2008-2009. Segundo ela, as bebidas à base de fruta como suco caseiro ou os industrializados de todo tipo encontram-se entre os alimentos com maiores médias de consumo diário per capita, com 145 gramas por dia. Isto é bastante! Então, deduzo que talvez a gente esteja substituindo muito além da conta as frutas pelas bebidas — mesmo sendo 100% sucos feitos somente da fruta ou integrais. Minha recomendação é que você adote estratégias, como marcar horários para saborear porções de frutas a fim de alcançar o consumo ideal.  Assim, irá promover uma mudança de hábito que só poderá ser muito positiva.

Sobre a autora

Engenheira de alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e doutora em nutrição pela Universidade Estadual de Campinas e pelo INRA, na França, Georgia Castro passou mais de 20 anos na área de assuntos científicos e pesquisa aplicada de algumas das maiores indústrias de alimentos do mundo, conhecendo como poucos os bastidores da produção daquilo que chega à nossa mesa. Atualmente, trabalha como coach de saúde e bem-estar.

Sobre o blog

Um espaço para você saber a verdade e compreender a composição dos alimentos embalados, aqueles que compramos no supermercado, nos atacados, nas lojas de conveniências ou que pedimos em cantinas, lanchonetes, bares e outros locais tão presentes na vida cotidiana. Assim, com informação, você será capaz de fazer escolhas de forma mais consciente.

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