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Blog da Georgia Castro

Gorduras do leite e de derivados não são ruins à saúde, dizem estudos

Georgia Castro

10/09/2018 04h00

 

Crédito: iStock

Produtos lácteos (os leites e derivados) são ricos em gorduras. Cerca de 25% de toda a gordura do leite são ácidos graxos mono e poli-insaturados, aqueles que são associados a alguns benefícios para saúde, como o ácido oleico, que se associa à redução dos níveis de colesterol total, LDL-colesterol e triglicérides. Já os outros 75% são gorduradas saturadas, que muitos especialistas costumam relacionar com problemas metabólicos, principalmente relacionados ao colesterol.

Os ácidos graxos poli-insaturados (PUFA's) também estão presentes na gordura do leite. Importante considerar a proporção entre estas gorduras, PUFAs e monoinsaturados, ou seja, entre os ácidos graxos ômega-6 e ômega-3 e neste caso, os produtos lácteos oferecem em torno de 1-2:1, uma proporção favorável quando comparada com a maioria dos alimentos, excetuando os peixes e derivados marinhos.

Em uma revisão sistemática recente publicada na revista European Journal of Nutrition, foi demonstrado a relação do consumo de produtos lácteos com alto teor de gordura e as doenças metabólicas, da obesidade e cardiovascular. De 16 estudos levantados, 11 apontaram uma relação inversa entre consumo de produtos lácteos com alto teor de gordura e adiposidade.

O mesmo resultado foi encontrado para doenças metabólicas, nível de triglicérides ou colesterol, ainda tendo estudos que não demonstraram nenhuma associação. Quanto à relação com doenças cardiovasculares, há outros estudos que indicam nenhum efeito negativo quando associado a um padrão de dieta regular com ingestão de produtos lácteos com teores de gordura ou mesmo pelo consumo de gordura láctea.

Entendendo as gorduras

As gorduras são nutrientes importantes como fonte de energia para nossas atividades diárias, fornecendo 9 calorias para cada 1 grama ingerida. O problema ocorre quando não gastamos essa energia, por não ter um gasto energético suficiente diariamente. Mas, lembrem que o acúmulo da gordura no corpo é devido não apenas ao excesso de consumo de gordura, mas principalmente de carboidratos que tambélevam a lipogênese – formação de gordura corporal.

Classificamos as em gorduras saturadas, poli-insaturas ou mono-insaturadas. As gorduras que possuem os ácidos palmítico, mirístico, láurico e outros, que podem estar presentes na gordura de palma, no óleo de coco e banha de porco são aquelas chamadas de gorduras saturadas.

Já as gorduras poli-insaturadas, chamadas de PUFAs, como o ômega-6 – –ácido graxo linoléico –, que está presente nos óleos de milho, girassol e de oleaginosas, como a soja, contribuem para redução do colesterol total e colesterol ruim (LDL-colesterol), conforme declara a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

O ácido α-linolênico, também conhecido como ômega-3 é poli-insaturado e pode ser encontrado em peixes, como a sardinha, salmão e linhaça.

Ainda temos a gordura mono-insaturada –ácido oleico — chamado de ômega-9 presente no azeite de oliva, que também está associada à redução do colesterol ruim e à redução de triglicérides.

Desmistificando a gordura saturada

Grande parte da má fama dos produtos lácteos se dá à quantidade da gordura saturada presente neles. No entanto, ainda não há um consenso entre especialistas e novos estudos têm revelado um outro lado do papel desse macronutriente à saúde.

Uma meta-análise recente publicada na American Journal of Clinical Nutrition, demonstra que não há uma relação de causa e efeito entre consumo de gordura saturada e doença cardiovascular, ainda sendo uma premissa que aumentando os níveis de LDL-colesterol há aumento de risco de doença cardiovascular. A relação entre ingestão de gordura e doença cardiovascular é muito mais complexo e ainda não considera o tamanho da partícula do LDL-colesterol e o seu efeito no HDL-colesterol (colesterol bom) e em outros mediadores de artereoesclerose, trombose e processos trombóticos.

Nesta mesma revista foi publicado um estudo conduzido durante 22 anos, com a ocorrência de 2420 mortes, sendo 833 de doença cardiovascular e 1595 de outras causas não relacionadas ao coração e ainda 1301 episódios de doença cardiovascular. A conclusão foi que não houve uma associação significativa entre gorduras lácteas e mortalidade, assim como para episódios de doença cardiovascular. Os biomarcadores –indicadores das gorduras lácteas no sangue, demonstraram que houve sim, uma relação inversa entre doença cardiovascular e morte por infarto, ou seja reduziu.

Agora em 2018, a revista Current Nutrition Rep. publicou um artigo concluindo que não há uma relação direta entre morte por doença cardiovascular e ingestão de gordura saturada, tendo ainda, em alguns casos, demonstrado uma relação positiva entre ingestão de gordura saturada e diabetes tipo II causada por obesidade.

De fato, colocar a gordura saturada como vilã  é uma maneira bem simples de explicar o que os pesquisadores do mundo inteiro estão buscando entender há mais de 40 anos. Importante considerar toda a matriz láctea, composta por proteínas, do leite e do soro de leite –whey protein, sais minerais, cálcio, lactose –, fonte de energia e as gorduras, que não são apenas saturadas, mas também insaturadas, como o ácido linoleico conjugado (CLA), abundante no leite de vaca. Este ácido graxo apresenta benefícios quanto à redução do colesterol total, LDL-colesterol e triglicérides, com efeito anti-aterogênico e antitrombótico devido à inibição da agregação plaquetária.

Então, de tudo um pouco e sem exageros para uma vida sustentável.

Sobre a autora

Engenheira de alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e doutora em nutrição pela Universidade Estadual de Campinas e pelo INRA, na França, Georgia Castro passou mais de 20 anos na área de assuntos científicos e pesquisa aplicada de algumas das maiores indústrias de alimentos do mundo, conhecendo como poucos os bastidores da produção daquilo que chega à nossa mesa. Atualmente, trabalha como coach de saúde e bem-estar.

Sobre o blog

Um espaço para você saber a verdade e compreender a composição dos alimentos embalados, aqueles que compramos no supermercado, nos atacados, nas lojas de conveniências ou que pedimos em cantinas, lanchonetes, bares e outros locais tão presentes na vida cotidiana. Assim, com informação, você será capaz de fazer escolhas de forma mais consciente.

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