Já existe em outros países leites que causam menos intolerância
Muitas pessoas se sentem mal ao tomar leite. Isso por que ele, assim como outros alimentos, pode despertar uma reação de hipersensibilidade. A questão é que quando falamos nas manifestações associadas à ingestão do leite, existem diferentes tipos de problemas, apesar de muita gente pensar apenas na intolerância à lactose. Além desse açúcar, há outros componentes que podem levar a sintomas de mal-estar, má digestão e ocorrências clínicas diversas. Por isso, deve-se avaliar com cautela qual seria a real causa dos sintomas.
Uma delas pode ser uma proteína chamada beta-caseína, que se apresenta em duas formas, A1 e A2. A beta-caseína A1, ao ser quebrada pelas enzimas digestivas, provoca a liberação de substâncias ligadas à inflamação gastrointestinal e que também agravam a diabetes e doenças degenerativas, como Alzheimer, Parkinson e outras. A própria inflamação pode levar a uma intolerância à lactose, sendo um fator agravante e complicador para o diagnóstico desse problema.
Infelizmente não há como tirar a beta-caseína A1 do leite, que normalmente contém diferentes quantidades da A1 e da A2. No entanto, os cientistas perceberam que algumas raças de gado leiteiro, como a Zebu que é bastante comum no Brasil, a Gir, a Montbéliard e a Normande, produzem leites com proporções maiores da A2.
Sabendo disso, hoje a indústria busca selecionar e cruzar raças que produzam leite com teores cada vez maiores dessa beta-caseína, para ter um produto menos inflamatório e com melhor digestão — principalmente para fórmulas infantis, já que as crianças são menos protegidas a esse tipo de reação do que os adultos.
A ideia parece complexa, mas, havendo demanda, o custo para verificar se há beta-caseína A1 ou A2 no leite poderá ser baixo e através de testes rápidos. Tanto que no mercado internacional, há algumas marcas que comercializam leite A2 ou seja, eliminando a fração da caseína que é pró-inflamatória. É o caso de uma empresa da Nova Zelândia, que já distribui esse produto nos mercados dos Estados Unidos, da China e do Reino Unido.
No Brasil, existem queijos feitos com leite A2, mas são encontrados somente em feiras, sem serem produzidos em escala industrial.
Diferenciar é fundamental
É claro que existem, sim, pessoas com reações de intolerância ou alergia a componentes do leite, como a lactose e outras proteínas do leite.
O diagnóstico diferencial desses problemas é essencial, mas ainda existem algumas dificuldades quando observamos os exames mais utilizados. Devemos distinguir entre hipolactasia congênita –deficiência da lactase, a enzima que quebra a lactose, devido a um gene, por exemplo — e outras causas de má digestão, como doença celíaca, enterite infecciosa ou doença de Crohn, males provocados por diferentes fatores e que pedem diferentes tratamentos. Todos esses problemas, porém, têm sintomas comuns, como a má digestão, diarreia e até problemas respiratórios. A ciência ainda está buscando o método mais assertivo e rápido, com melhor custo e benefício para o correto diagnóstico.
Quando se tem uma intolerância à lactose é necessário ler a rotulagem dos alimentos. Deve estar declarado, logo após a lista de ingredientes, se aquele produto contém esse carboidrato ou não, se apresenta um teor igual ou acima de 0,01% de lactose. Se você não vê nada escrito, significa que não contém.
Já no caso das substâncias alergênicas presentes no leite, na soja, nas castanhas, no trigo e em outros, elas também precisam estar declaradas logo após a lista de ingredientes — se realmente fazem parte da composição do produto ou se ele pode conter, devido ao que chamamos de uma contaminação cruzada na linha de produção. É quando o operador compartilhou um utensílio usado na produção de outro alimento, o qual ainda pode conter traços das substâncias alergênicas.
Mas sentir uma má digestão não justifica parar de consumir produtos lácteos — nem pães, massas, produtos à base de trigo, centeio e aveia, sem antes investigar. Busque um diagnóstico correto com seu médico e apenas elimine da sua dieta um grupo alimentar quando comprovadamente ele estiver associado a uma doença. Caso contrário, seu cardápio, para ser saudável, deve contemplar todos os grupos alimentares: cereais, frutas, verduras e legumes, oleaginosas, carnes e ovos, açúcares e doces, óleos e gorduras saturadas e insaturadas e os lácteos.
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